Pela terceira vez, Efraín Alegre disputa a presidência do Paraguai. Desta, seu partido, Liberal, uniu uma coalizão de oposição para enfrentar o governista Partido Colorado.
Analistas afirmam que esse é o melhor momento de Alegre, advogado de 60 anos, por conta da fragmentação no oficialismo e das acusações de corrupção que envolvem integrantes do Colorado. Em conversa com o Estadão, o candidato disse estar otimista e afirmou que pretende avançar nas negociações sobre o acordo de Itaipu dentro dos termos do acordo feito em 2009 entre Fernando Lugo e Luiz Inácio Lula da Silva, quando o Brasil aceitou pagar mais pela energia paraguaia.
Qual é a importância da frente montada por sua candidatura?
Essa união permite superar uma visão do passado, de uma velha disputa de partidos. Hoje a Consertación representa o verdadeiro Paraguai. O Paraguai que o mundo vê não é o que somos, não somos um país de sicários, de piratas, comprometido com o crime organizado e com a corrupção. Há um grupo que está comprometido com esse modelo, do qual Cartes é o responsável principal e o candidato Peña é apenas um representante. Cartes não pode ser candidato e tenta a reeleição via Santiago Peña. A cidadania entende que isso representa um dano para a nossa sociedade. Nosso país é um país de gente trabalhadora, decente, honesta e esse verdadeiro Paraguai que vai decidir o futuro do país no dia 30, por isso estamos muito otimistas.
Como pretende tratar o tema da corrupção em seu governo?
O grande passo que devemos dar, e essa deve ser nossa prioridade como país, é combater frontalmente a corrupção, o crime organizado. A corrupção não é como a democracia. A democracia vem de baixo para cima, a corrupção vem de cima para baixo. É desde a mais alta autoridade que se inicia o combate. Vamos fazer isso visando o poder judicial que precisamos recuperar, que nos possa dar segurança e previsibilidade, que é o que nos falta. E isso só nós podemos fazer.
Quais são os outros temas essenciais para os próximos cinco anos?
Precisamos de uma política progressista, desenvolvimentista. Temos energia em abundância e não a estamos usando, mas aí batemos no que eu dizia antes. Não podemos pensar em uma política industrial, uma política de desenvolvimento, sem ter um poder judicial que seja previsível, que possa dar segurança jurídica. Essa é uma questão central. A isso, precisamos somar as condições que temos como país altamente competitivo na região. Podemos atrair e gerar um desenvolvimento importante.
Além disso, temos uma grande tarefa no campo. Temos níveis de pobreza muito importantes, mais de 20% da população na pobreza. Precisamos desenvolver o campo porque hoje o campo expulsa nosso compatriota por falta de oportunidades. Estamos trabalhando em uma política de produção. Atualmente, tudo é voltado ao exterior, significando cerca de US$ 1 bilhão que sai do Paraguai para trazer produtos que podemos fazer em nosso país. Temos a capacidade de abastecer nosso mercado e fazer com que esse US$ 1 bilhão fique no campo e gere emprego e riqueza. Isso envolve um trabalho de financiamento, de assistência técnica e combate ao contrabando. O atual modelo está ultrapassado, 65% dos compatriotas dizem nas pesquisas que precisamos de mudança.
Qual é a sua opinião sobre o próximo acordo de Itaipu?
Vamos conversar e avançar. Sou muito otimista com os acordos que vamos conseguir com o Brasil. Não somente em Itaipu, mas em outras áreas também. Acreditamos que o Brasil é, e deve ser sempre, um aliado estratégico. Quanto a Itaipu, nossa, a gente tem um acordo de Fernando Lugo com o presidente Lula que significa um avanço muito importante na questão energética, estamos otimistas de que vamos encontrar o entendimento necessário para seguir trabalhando juntos.
Lula disse que pretende buscar um acordo mais justo sobre Itaipu para que os dois lados saiam com boas opções. Sua campanha já pensou em alguma proposta?
Estamos conversando há tempos sobre a política energética e nossa proposta está dentro dos termos do acordo Lugo-Lula, por isso digo que somos otimistas. Sabemos que podemos avançar. O caminho do Brasil e Paraguai é o da aliança e acreditamos que estamos em condição de continuar construindo um relacionamento comercial, de desenvolvimento.
Qual é a sua opinião sobre a relação atual de Paraguai e China, EUA e Taiwan?
Temos uma relação histórica de alianças com os EUA, mas temos, sim, uma crítica com respeito ao nosso relacionamento com Taiwan. Hoje, é uma relação diferente, uma opção. Ou se tem relações com Taiwan ou com a China e nós estamos convencidos de que o Paraguai tem feito um esforço muito grande e perde importantes oportunidades no mercado chinês ao assumir relações com Taiwan. Vemos que não há um esforço por parte de Taiwan, como há por parte do Paraguai. Então, vamos conversar e vamos resolver a questão no momento apropriado, com base nos interesses nacionais - a linha que vai conduzir nossas relações internacionais - mas sem deixar de ver nossas alianças com países fraternos.
Mas vocês estão analisando uma mudança ou tomaram a decisão?
Estamos analisando, não há nenhuma decisão tomada, mas temos uma visão crítica ao que temos hoje. Acreditamos que a atual não é adequada.
O que pensa sobre a situação da Venezuela e o papel dos países latino-americanos na questão?
A Venezuela está em crise há muito tempo e esperamos que toda a região possa consolidar o modelo democrático de governo. Esperamos que aconteça na Venezuela. Respeitamos a política interna de cada país, mas desejamos uma abertura democrática para a Venezuela.
Como o senhor avalia o aumento da polarização política na América Latina e quais são os riscos para o Paraguai?
Vemos, tanto na região, quanto no Paraguai mesmo, uma intolerância, uma radicalização da extrema direita que nos preocupa por ser intolerante, arbitrária e isso não é bom para um país. Somos um país sem lutas de classes, que aprendeu a conviver juntos. Nos preocupa muito essas condutas totalitárias, e estamos vendo nessa campanha, por parte de Cartes. Esse não é o Paraguai que queremos. Somos um povo solidário. Durante a pandemia, quando o dinheiro não chegava para os serviços de saúde, foi o povo em sua solidariedade que saiu a ajudar os que mais precisavam.
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